Gênero Textual: Conto
O conto é uma obra de ficção, um texto ficcional. Cria um universo de seres e acontecimentos de ficção, de fantasia ou imaginação. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e enredo.
Classicamente, diz-se que o conto se define pela sua pequena extensão. Mais curto que a novela ou o romance, o conto tem uma estrutura fechada, desenvolve uma história e tem apenas um clímax. Num romance, a trama desdobra-se em conflitos secundários, o que não acontece com o conto. O conto é conciso.Fonte: http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/conto-caracteristicas-do-genero-literario.htm
Um Apólogo
Machado de Assis
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
Quem é Machado de Assis?
Biografia: Machado de Assis (Joaquim Maria M. de A.), jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21 de junho de 1839, e faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908. É o fundador da Cadeira nº. 23 da Academia Brasileira de Letras. Em 1881 saiu o livro que daria uma nova direção à carreira literária de Machado de Assis - Memórias póstumas de Brás Cubas, que ele publicara em folhetins na Revista Brasileira de 15 de março a 15 de dezembro de 1880. Revelou-se também extraordinário contista em Papéis avulsos (1882) e nas várias coletâneas de contos que se seguiram. Em 1889, foi promovido a diretor da Diretoria do Comércio no Ministério em que servia.
Biografia: Machado de Assis (Joaquim Maria M. de A.), jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21 de junho de 1839, e faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908. É o fundador da Cadeira nº. 23 da Academia Brasileira de Letras. Em 1881 saiu o livro que daria uma nova direção à carreira literária de Machado de Assis - Memórias póstumas de Brás Cubas, que ele publicara em folhetins na Revista Brasileira de 15 de março a 15 de dezembro de 1880. Revelou-se também extraordinário contista em Papéis avulsos (1882) e nas várias coletâneas de contos que se seguiram. Em 1889, foi promovido a diretor da Diretoria do Comércio no Ministério em que servia.
"Os quebradores de Pedra" - Pintor Francês Gustave Courbet. Este pintor é considerado o criador do Realismo Social na pintura. |
Breve conceito do Realismo e de suas características:
O Realismo surge em posição á alienação dos ultra – românticos, propondo uma nova estética, que apregoa a descrição exata da realidade física e humana.(D’ONOFRIO, Salvatore.Literatura Ocidental.São Paulo: Editora Ática, 2007.p.380)
Machado de Assis inaugurou o Realismo no Brasil, com a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881).
Principais características Estéticas do Realismo:
1. Objetividade (# subjetividade)
2. Cientificismo (# idealismo)
3. Exterioridade (# interioridade)
4. Racionalismo (# sentimentalismo)
5. Inteligência (#emoção)
6. Materialismo (# espiritualismo)
O Realismo surge em posição á alienação dos ultra – românticos, propondo uma nova estética, que apregoa a descrição exata da realidade física e humana.(D’ONOFRIO, Salvatore.Literatura Ocidental.São Paulo: Editora Ática, 2007.p.380)
Machado de Assis inaugurou o Realismo no Brasil, com a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881).
Principais características Estéticas do Realismo:
1. Objetividade (# subjetividade)
2. Cientificismo (# idealismo)
3. Exterioridade (# interioridade)
4. Racionalismo (# sentimentalismo)
5. Inteligência (#emoção)
6. Materialismo (# espiritualismo)
Atividade de compreensão:
1) Definição de Apólogo: (a.po.lo.go) sm.1. Narrativa que traz uma lição moral [..] tem como personagens animais ou objetos que agem e dialogam como seres humanos.
Fonte: http://aulete.uol.com.br/nossoaulete/ap%C3%B3logo
No conto de Machado de Assis esses personagens são a agulha e o novelo de linha, personagens simbólicos e metafóricos que exercem uma função social importante no texto. Que função social é essa?
2) A linha e a agulha representam a união de funções para se realizar determinado trabalho. Isto se chama trabalhar em equipe. Neste tipo de trabalho há funções que são mais importantes que outras? Faça um breve comentário exemplificando com um trabalho que necessite de várias pessoas para ser realizado, estabelecendo a relação de interdependência de cada função para conclusão desse trabalho.
3) Com base nas características do Realismo dadas acima, encontre no texto duas dessas características e explique. Retire trechos que comprovem sua argumentação.
4) No último parágrafo do conto temos a seguinte frase:
“Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:O que você entende por professor de melancolia? E por que ele diz que serviu de agulha a muita linha ordinária?
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!”
Tipos de Narradores:
A
narração pode ser feita em primeira ou em terceira pessoa, sendo assim podemos
classificar os narradores como narrador em 1ª pessoa e narrador em 3ª pessoa.
- NARRADOR PERSONAGEM: além de contar a história
em primeira pessoa, faz parte dela, sendo por isso chamado de personagem. É
marcado por características subjetivas, opiniões em relação aos fatos
ocorridos, sendo assim uma narrativa parcial, já que não se pode enxergar
nenhum outro ângulo de visão. A narrativa é dotada de características
emocionais daquele que narra. Esse tipo de personagem tem visão limitada dos
fatos, de modo que isso pode causar um clima de suspense na narrativa. O leitor
vai fazendo suas descobertas ao longo da história junto com a personagem.
- NARRADOR PROTAGONISTA: o narrador é a
personagem principal da história. Todos os acontecimentos giram em torno de si
mesmo, e por isso a narrativa é a mais impregnada de subjetividade. O leitor é
induzido a compartilhar dos sentimentos de satisfação ou insatisfação vividos
pela personagem, o que dificulta ainda mais a visão geral da história.
- NARRADOR
COMO TESTEMUNHA: É
uma das personagens que vivem a história contada, mas não é a personagem
principal. Também registra os acontecimentos sob uma ótica individual, mas como
é personagem secundário da trama não há uma sobrecarga de emoções na narração.
Narrador em terceira pessoa
- NARRADOR ONISCIENTE: É aquele que sabe de tudo. Há vários tipos de narrador onisciente, mas podemos dizer que são chamados assim porque conhecem todos os aspectos da história e de seus personagens. Pode por exemplo descrever sentimentos e pensamentos das personagens, assim como pode descrever coisas que acontecem em dois locais ao mesmo tempo.
- NARRADOR
ONISCIENTE NEUTRO: Relata os fatos e descreve as personagens, mas não influencia o
leitor com observações ou opiniões a respeito das personagens. Fala somente dos fatos indispensáveis para a boa
compreensão da narrativa.
- NARRADOR
ONISCIENTE SELETIVO: Narra os fatos sempre com a preocupação de relatar opiniões, pensamentos e impressões de uma ou mais personagens, influenciando assim o
leitor a se posicionar a favor ou contra eles.
- NARRADOR OBSERVADOR: é o que presencia a história, mas ao
contrário do onisciente não tem a visão de tudo, mas apenas de um ângulo.
Comporta-se como uma testemunha dos fatos relatados, mas não faz parte de
nenhum deles, e a sua única atitude é a de reproduzir as ações que enxerga a
partir do seu ângulo de visão. Não participa das ações nem tem conhecimento a
respeito da vida, pensamentos, sentimentos ou personalidade das personagens.
CURIOSIDADE
Carlos
Fuentes com a obra: Aura (1962) apresenta um outro tipo de
narrador: Narrador em 2ª pessoa.O
narrador representado dirige-se ao personagem e ao leitor, e diz o
que acontecerá num futuro concluído: “Você viverá esse dia
como os demais dias, e não voltará a se lembrar senão no dia
seguinte, quando se senta novamente na mesa do bar, pede o café
da manhã e abre o jornal” (FUENTES, 1981, p. 14).
Ele é considerado um renovador e um dos maiores escritores
mexicanos. Nasceu em 1928 no Panamá, quando seu pai servia como
diplomata mexicano nesse país. Aos 16 anos vai para o México e
começa a trabalhar como jornalista para a revista Hoy.
Em
1962 escreve Aura,
um relato em que os processos da ficção são levados às últimas
conseqüências. Fuentes
recebeu o Prêmio Nacional de Literatura, o mais importante do
gênero em seu país; o Prêmio Miguel de Cervantes, o mais
prestigioso da literatura em espanhol; o Prêmio Príncipe de
Astúrias, na Espanha, e a Medalha Picasso, da Unesco, entre
outros. Já lecionou em Harvard, Cambridge, Princeton e outras
universidades norte-americanas de renome internacional. Fonte:
|
5) Identifique o tipo de Narrador do conto e explique porque você chegou à essa conclusão.
6) Machado de Assis possui um estilo próprio de escrever, assim como vários autores. No conto observamos que ele utiliza algumas figuras de linguagem. Conceituamos abaixo duas delas: a metáfora e a prosopopeia. Partindo da concepção dessas figuras de linguagem, retire do texto frases nas quais o autor se utilizou desses recursos e diga qual é o papel dessas figuras na construção de sentido do texto?
Conceitos básicos:
Metáfora: é um meio de nomear um conceito de um dado domínio de conhecimento pelo emprego de uma palavra usual em outro domínio. Ex: luz da inspiração, engolir uma desculpa, torcer as palavras etc.
Prosopopeia: Põe em cena seres ausentes, sobrenaturais ou
inanimados, fazendo-os ouvir, falar, responder.
AZEREDO,José Carlos de. Gramática Houaiss de
Lingua Portuguesa. São Paulo: Publifolha,2011.
7) Proposta de Produção Textual: Conto.
Crie personagens reais para a agulha e o novelo de linha e elabore um conto sem fugir das estruturas e das características do gênero.
Para descontrair!
Saiba mais sobre outra obra famosa de Machado de Assis (Dom Casmurro) através de um jogo bem divertido e um vídeo educativo. Divirta-se!
Jogo (Clique na imagem)
Vídeo educativo - Parte 2
Confira abaixo o vídeo Motivacional que o palestrante Daniel Godri utilizou para incentivar o trabalho em equipe fazendo intertextualidade com o conto de Machado de Assis.
Eleito
segundo melhor palestrante no ranking brasileiro das estrelas que mais
brilham no palco no mercado de palestras. Apresentador do Programa
Desenvolvendo Talentos, pela TV Canção Nova. Realizou palestras pelo
mundo inteiro. Ex-professor de Marketing da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná; Ex-coordenador de Marketing do curso de
Pós-graduação da Business School FAE; Faculdade Católica de
Administração e Economia.
Fonte: http://www.godri.com.br/Perfil
Fonte: http://www.godri.com.br/Perfil
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça seus comentários, críticas ou sugestões.