quinta-feira, 6 de junho de 2013

APRESENTAÇÃO


         
Caro jovem,

Falar e ouvir, ler e escrever, em linguagem verbal e não verbal, tudo isso faz parte do dia a dia de qualquer pessoa que tenha intenção de se comunicar nos mais diferentes contextos e circunstâncias, inclusive no ambiente profissional.
Nesta unidade didática, esperamos que você possa desenvolver o espírito crítico sobre o tema que norteia as atividades propostas: TRABALHO E CONSUMO. Pretendemos que você possa diferenciar as diversas linguagens  que compõem esse novo contexto social do qual em breve você fará parte, que é o mundo do trabalho.
Levá-lo a refletir, informar, prender a atenção, contribuir para sua formação como leitor e produtor de textos é a maior finalidade desta unidade. Você vai encontrar textos de diferentes tipos e gêneros: letras de música, poesia, histórias, notícias, reportagens, relatos, charges, tirinhas e outros.
Esta unidade didática foi feita especialmente para você: jovem disposto a enfrentar um novo mundo que se abrirá a partir da sua inserção no mercado de trabalho e o estudo da Língua Portuguesa é fator primordial para que você se utilize das diferentes linguagens utilizadas em contextos de comunicação.

            Bom estudo!

                                                             As autoras (Adriana, Elza, Lucilene e Patrícia)
             
           
Eu sei, mas não devia (Marina Colasanti) - 1972

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
 

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.   
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. 
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
 A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Texto de divulgação científica 

Texto 1

Trecho do artigo Trabalho e Consumo – Escrito pelo Professor de Filosofia Felipe Soares. O professor possui Licenciatura e o Bacharelado em Filosofia, formação complementar em Letras e Ciências Humanas e Mestrado na linha de Lógica e Filosofia da Ciência pela (Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Além disso, ele também desenvolve trabalhos como músico.

“Consideremos que há 168 horas totais em uma semana. Teoricamente, durante 56 estamos dormindo. São, portanto, 112 horas em vigília. Se trabalharmos 44 horas semanais, subscritas como normais pela Constituição Federal de 1988, no seu artigo 7º, inciso XIII, temos 40% do nosso tempo ativo diretamente dentro do trabalho, sem contar nesse percentual o tempo gasto no deslocamento residência-trabalho, nos estudos de formação ou atualização, etc. Com isso, é possível notar que o tempo vivido no trabalho há de ser cuidado, tendo em vista a própria realização humana, que a necessidade e as características do trabalho devem ser pensadas no contexto da vida como um todo, nos planos psicológicos e sociais. 
Com relação ao salário, um dos principais objetivos do trabalho e base do consumo, notemos que não é apenas fonte de subsistência: ele também é o veículo da realização de sonhos e de aspirações pessoais, é peso de medida de grande parte da satisfação com a 
vida prática em suas condições materiais. O salário tem influência direta sobre a taxa de natalidade, sobre o nível de consumo de bens materiais e imateriais, sobre a organizaçãodas cidades, sobre o nível de felicidade desta sociedade que precisa se realizar nas estruturas e ideologias que estão aí. O valor recebido como contraprestação pelo serviço, contribui para a subsistência, segurança, realização de aspirações, satisfação pessoal quanto ao valor de sua força de trabalho.”

Texto 2

Tirinhas da Mafalda

Atividades de compreensão 

Com base na leitura dos textos, reflita e responda as questões:

1) Atualmente obter um salário é um dos principais motivos para trabalhar. Levando em consideração que o salário não é só uma fonte de subsistência, você acredita que o dinheiro pode comprar tudo? Reflita sobre essa questão e justifique sua resposta. 

2)O salário tem influência direta...sobre o nível de felicidade desta sociedade que precisa se realizar nas estruturas e ideologias que estão aí.”
Reflita sobre esse trecho do artigo “Trabalho e Consumo” e posiciona-se a respeito da influência do salário no nível de felicidade da sociedade. De acordo com o trecho do artigo, a sociedade precisa se realizar em estruturas e ideologias presentes no dia a dia, quais seriam elas?

3) “Mas parece que se você passa desodorante, depois come salsichas e aí compra uma máquina de lavar roupas, só não é feliz se for muito idiota”.

Esse trecho retirado da tirinha da Mafalda retrata o consumismo, ou seja, o poder de comprar tudo que deseja reflete diretamente na sua felicidade. Conforme nosso poder aquisitivo, podemos comprar basicamente todos os bens materiais que estiver ao nosso alcance. Com base nisso, reflita sobre os prós e os contras em se poder comprar tudo que o dinheiro pode comprar.  


4) Leia abaixo as características de um texto de divulgação científica e compare os dois textos apresentados. Qual a diferença na linguagem utilizada em cada um? 


5) A tirinha apresenta uma linguagem mais próxima da linguagem utilizada no dia-a-dia das pessoas. Aponte nas falas de Mafalda e Miguelito elementos que comprovem esta afirmação.

6) A fala da Miguelito no segundo quadrinho da tirinha se relaciona diretamente com um trecho do texto 1. Identifique e transcreva este trecho. 


Para descontrair!

Aprenda e divirta-se jogando o "Game da Reforma Ortográfica" (clique na imagem).



Gênero Textual: Entrevista

A entrevista é um gênero primordialmente oral. Nas várias listas de gêneros de entrevista, a maioria refere a interações sociais (entrevista com médico, entrevista para conseguir emprego, entrevista coletiva etc). Quando publicadas em jornais e revistas, na maioria das vezes, a entrevista foi feita oralmente e depois transcrita para publicação. A escrita, porém, é apresentada na forma de um diálogo, ou seja, é marcada a troca de turnos entre os participantes. (Dioniso, Angela Paiva. Machado,Anna Rachel. Bezerra, Maria Auxiliadora. Gêneros Textuais & Ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. (p. 197 e 198).

Linguagem: Pela linguagem se expressam ideias, pensamentos e intenções, se estabelecem relações interpessoais anteriormente inexistentes e se influencia o outro, alterando suas representações da realidade e da sociedade e o rumo de suas (re)ações.(PCNs. p.20)

Linguagem oral é a que se usa quando o interlocutor está frente a frente conosco e justamente podemos falar com ele. Já a escrita, em tese, é usada quando o interlocutor está ausente. Entre a linguagem oral e a escrita há muitas diferenças, mas não uma oposição rígida.

Na linguagem oral, o ambiente é comum a ambos os falantes. Por isso, quando usam "eu", "aqui", "hoje", não precisam explicitar do que se trata. Além disso, os gestos, expressões faciais, altura do tom da voz, contribuem para a clareza da comunicação. Nesse sentido, a linguagem oral usa recursos diferentes daqueles usados na linguagem escrita. 


Entrevista da Revista Isto é com Gilles Lipovetsky 


ISTOÉ - Até que ponto o consumo pode satisfazer alguém? Ou determinar sua identidade?

GILLES LIPOVETSKY - Vivemos em uma época em que a grande utopia é a busca da felicidade privada, e o consumo é visto como um dos meios para alcançar essa felicidade. Mas todo mundo sabe que o consumo não faz ninguém feliz. Consumir traz satisfação, que não é a mesma coisa que felicidade. Se você compra um carro, se faz uma viagem, o consumo lhe proporciona uma sensação de evasão, o faz esquecer seus problemas, mas esse sentimento é temporário. Então a civilização hipermoderna tem algo de paradoxal. Corremos atrás de algo que não dá felicidade, nem infelicidade. Mas não devemos “diabolizar” o consumo. É fácil criticar o consumo quando temos muito, mas os mais pobres aspiram ao consumo, pois ele significa progresso. As pessoas vivem melhor com boa saúde, e isso não pode ser desassociado do consumo, pois precisamos comprar remédios e ir ao médico para vivermos saudáveis. O consumo também é capaz de abrir um leque de possibilidades culturais. Por meio dele podemos conhecer o mundo e outras culturas, e isso nos ajuda a conhecer melhor a nós mesmos.

ISTOÉ - Como as novas tecnologias e as mídias sociais estão afetando a forma como nos vemos e lidamos com nossa aparência?

GILLES LIPOVETSKY - A coisa mais surpreendente das novas mídias sociais é o paradoxo do individualismo. As pessoas adoram dizer que querem manter sua autonomia e individualidade, mas não é isso que transparece nas redes sociais. Ali, o indivíduo autônomo se revela dependente dos outros e da aceitação alheia. Por que as pessoas escrevem no Facebook? Cada um que escreve espera um retorno. Espera que alguém curta sua foto ou espera comentários positivos, espera, enfim, a aprovação dos outros. Nas redes sociais todos somos exemplares. Colocamos apenas nossas melhores imagens e exibimos nossas melhores qualidades, justamente porque queremos que as pessoas nos aprovem. Por outro lado, é preciso ser otimista em relação a essas novas formas de comunicação. Muitos críticos afirmam que hoje as pessoas só têm relações virtuais, online, e que não há mais relações reais. Mas isso não é verdade. As pessoas que estão conectadas também se encontram fisicamente. Então é claro que a relação virtual não destrói odesejo de ligação física. Isso é um mito.  

ISTOÉ - Como descreveria, citando uma expressão sua, o mundo de hiperconsumismo em que vivemos?

GILLES LIPOVETSKY - Tudo no dia a dia depende de uma compra. Somos constantemente obrigados a comprar. Se você sai, tem de pegar o carro, o avião, e isso implica gastar dinheiro. Pense em coisas que antes não eram consumidas. Da última vez que estive em São Paulo o motorista me levava ao hotel, e, no caminho, via as pessoas correndo em academias, em esteiras. As pessoas hoje pagam para correr, sendo que antes corríamos de graça. Antes, para nadar, íamos aos rios. Agora precisamos pagar para frequentar piscinas. Antes, quando tínhamos problemas pessoais, falávamos com o padre e ele dizia o que fazer. Hoje falamos com o psicólogo. O gesto mais elementar da vida, que é conversar, pedir conselhos, virou consumo, pagamento.

ISTOÉ - O sr. diz que vivemos na “sociedade da decepção”. Por que, apesar de todo o progresso, estamos mais tristes do que nunca?

GILLES LIPOVETSKY - O problema da sociedade da decepção é que sentimos que nunca estamos consumindo o suficiente. O lado ruim do consumo não é somente o excesso, mas também o fato de que muitas pessoas sofrem porque acham que não consomem o suficiente. Se você não tem internet ou telefone celular, se sente infeliz. O mundo no qual estamos entrando é um mundo competitivo e difícil. As necessidades são enormes, e as pessoas não podem pagar por todas elas. Aí o déficit de consumo vira um drama. Antes, as pessoas ficavam em casa nas férias e não sofriam com isso. Hoje, se você nunca sair de seu bairro, você ficará triste. Mudar tornou-se essencial. Mas, como o dinheiro não é proporcional aos desejos de consumo, há uma frustração.   

Fonte: http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalh/228717_O+BRASILEIRO+TEM+ PAIXAO+PELO+LUXO+

Atividades de compreensão

1) O gênero textual entrevista utiliza-se da linguagem oral, porém ao analisar a fala de Lipovetsky percebemos que para publicação na forma escrita, a revista fez uma revisão das palavras, pois não encontramos palavras como: né, tá bom, ok etc, nem as marcas da linguagem oral, que é a pausa, a repetição, entre outras. Portanto, a linguagem oral característica de alguns gêneros textuais como: entrevista, palestras, seminários etc, não é a mesma linguagem do cotidiano. A linguagem escrita obedece às regras gramaticais estabelecidas pela norma. Você acredita que comunicar-se bem implica em seguir estas regras em qualquer contexto de comunicação? Isso é possível na língua falada?

2) Marcos Bagno, professor de linguística, disse o seguinte a respeito da língua falada: “A língua falada é um tesouro onde é possível encontrar coisas muito antigas, conservada ao longo dos séculos, e também muita invenções, resultantes das transformações inevitáveis por que passa tudo o que é humano – e nada mais humano do que a língua...”(BAGNO, Marcos. Português ou Brasileiro – 4ª Ed. – São Paulo: Parábola Editorial,2004. P.24). Aqui o termo “língua falada” é a mesma que a linguagem do cotidiano. O que você entende com essa afirmação de Bagno sobre a língua falada?


3) Com base na entrevista realizada pela revista “Isto é” com Lipovetsky, aponte os aspectos positivos e negativos do consumo, ou seja, até que ponto podemos nos beneficiar ou nos prejudicarmos com o consumo?

4) Lipovetsky menciona as redes sociais, ele diz que apesar do Facebook ser um ambiente de aparências e estabelecer uma relação de dependência do outro, ele não concorda com muitos críticos quando dizem que não existe mais o contato físico e só relações virtuais. Você acredita que o acesso ao Facebook e outras redes sociais estimularam o individualismo ou ampliou as relações humanas? Por quê? 

5) Para você, por que as pessoas sentem cada vez mais necessidade de comprar, até mesmo quando nem apresentam recursos para isso?